Tela ou Terra? A Escolha Entre o Conforto Virtual e o Esforço Real
Hoje me deparei com o anúncio de uma academia em uma rede social. Ele mostrava simuladores de remo ultramodernos em uma sala com telas de LED nas paredes e no teto, projetando uma lagoa. As imagens eram tão realistas que, à primeira vista, qualquer desavisado poderia imaginar que se tratava de uma verdadeira paisagem.
Todos que ali remavam com foco e precisão, em movimentos coordenados, rítmicos e mecânicos como toda aquela estrutura. Buscavam se exercitar. Mas remar por remar se pode em qualquer lugar. Por que simular a natureza?
Não se trata apenas de transpiraçâo. Cada remada, diante da lagoa projetada, é também uma tentativa de alcançá-la de chegar até lá. Mas por que não buscar a lagoa real? Sentir o vento no rosto, a água respingando no corpo, o frio que percorre a pele enquanto os músculos se contraem: quadril, pernas, dorsais, braços todos trabalhando.
O filósofo David J. Chalmers disse certa vez: “A vida em mundos virtuais frequentemente será a vida certa a ser escolhida.” E talvez ele tenha razão. Nossos espaços estão mudando. Em pouco tempo, pode ser que não haja mais lugar, nos grandes centros urbanos, para atividades físicas ao ar livre principalmente esportes aquáticos. Encontrar um espaço para nadar em águas abertas já é difícil em cidades que não têm litoral.
Ainda assim, nós, seres pertencentes a esta Terra, temos uma necessidade visceral de estar expostos ao mais natural que ela tem a oferecer.
Estar em meio à natureza, praticando atividade física, é um modo de nos despirmos de qualquer pudor diante do esforço. Ali, desfazemo-nos das máscaras civilizatórias e expomos o que há de mais selvagem em nós. É um presente um belo presente que damos a nós mesmos.
Foi então que me dei conta: fechei o vídeo, calcei os tênis, vesti o traje de natação e saí. Saí correndo, em busca de algum lugar para nadar. Queria sentir o vento, a temperatura, a umidade no ar, o choque térmico de entrar na água. Queria viver isso antes que me restasse apenas a esteira e o simulador, numa sala fria e projetada.
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